11 março, 2006

Defesa!

Tiros em providência
Sérgio Vaz

No último dia três de março o exército brasileiro, treinado para defender o país e garantir a segurança de nossas fronteiras, teve um quartel, na zona norte do Rio de Janeiro, assaltado. Sim, assaltado como nós civis, e ao que tudo indica 7 homens, do exército inimigo, invadiram o local e levaram 10 fuzis e uma pistola -armamento que seria para proteger a nação e levar segurança aos nossos lares. Em reposta ao ataque inimigo, o exército invadiu várias favelas cariocas em busca da auto-estima perdida, e garante que só sai de lá com os fuzis recuperados. No meio desse fogo cruzado a população pobre dos morros esquiva-se como pode das balas perdidas e de algumas que acham os desavisados de sempre.
Os moradores do morro, suspeitos profissionais, da providência fizeram um protesto contra a invasão e osExcessos de alguns militares para com a população. Algumas mulheres e crianças chegaram até agredirem alguns dos combatentes, mas logo foram controlados com tiros de fuzis para o alto e suspensos pelos fundilhos das calças. Nesse clima de guerra mais de 1600 homens estão entrincheirados em vários morros do Rio de Janeiro, mas nenhum deles, pelo menos até agora, foi até um veículo de tv, jornal, revista, ou coisa similar, para pedir desculpas para os brasileiros por terem sido atacados na sua mais potente arma, o orgulho.
Em vez disso, sobem no morro enfurecidos, sem nenhuma estratégia, a não ser sufocar o comércio de drogas e torcer que o prejuízo do tráfico devolva as armas. Invadem casas, quebram portas, humilham pessoas suspendendo-as pelos fundilhos das calças, como se toda e qualquer favela tivesse culpa pela fragilidade de todo um quartel. Isso é inadmissível. É inadmissível também saber que o exército não esteja ali para combater o tráfico ou prender bandidos para a segurança do trabalhador, mas simplesmente cicatrizar o orgulho ferido.Não importam quantos dias, quantas balas perdidas, quantas vidas serão necessárias para que se recuperem estas armas roubadas, como dizem, dali não saem. Michael Moore faria um ótimo documentário sobre isso “tiros em providência”, sugiro eu.Enquanto isso, a população desses morros anda de cócoras para não serem atingidas. O país anda de joelhos, para que Deus ouça nossas preces. Nós, observadores da desgraça alheia, andamos de olhos fechados e fingimos que não temos nada a ver com isso. A favela sangra e marchamos para o nada, até quando?

Sérgio Vaz

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha