08 agosto, 2010

Mímese

Vou-me embora pra Passárgada
Lá não tenho que trabalhar
Durmo a hora que quero
Até meu sono acabar.

E quando meu sono acaba
Levanto-me bem devagar
Espreguiço-me inteira
E no rio vou me despertar.

Banho-me em límpidas e tépidas águas
O tempo que desejar
E o melhor é que no fim do mês
Não tem conta para pagar.

Em Passárgada assim começo o dia
Depois vou me alimentar
E a comida é boa, farta
De nada pode faltar.

Lá o leite não tem água oxigenada
Nem data de validade
Adulterada.
É consumido na hora, quentinho que só!

A manteiga tem gosto de manteiga!
O requeijão tem gosto de requeijão!
O queijo tem gosto de queijo!
A nata tem gosto de nata!

Tem criações, pomares, hortas e plantações
Diversificadas e abundantes
É permitido comer de tudo, quanto baste para saciar
Em Passárgada a fome não existe e a gula é imperdoável.

Vou-me embora pra Passárgada
Lá não tem banco, dinheiro, cartão de crédito, cheque, cheque especial e juros
Pra gente se enforcar
A riqueza é de todos.

Não tem metrô, trem, carro, buzina, trânsito, farol ou mão
Porque não precisa, tudo é tão pertinho...
E quando é preciso ir mais longe
É só pedir ajuda a um cavalo que ele gentilmente atenderá.

Não tem relógio
Somente o sol, a lua e o estômago
Que não gritam, mas são implacáveis para nos despertar.

Todo mundo se conhece
“Bom dia, boa tarde, boa noite, como vai”
Não existe xingamento
Somente doces palavras que trazem contentamento.

Vou-me embora pra Passárgada.


Lá todo mundo é artista e alfabetizado
Tem pé de livro, plantações de instrumentos musicais
Os pássaros são exímios maestros
Os camaleões, professores de teatro
E os Lêmores, exímios bailarinos, conduzem a dança.

Quando chove
Arco-íres colorem o cenário
Nossas taças se enchem de champagne celestial
Brindamos!

Fazemos um grande sarau para celebrar a fartura, a vida e a fertilidade
Os livros recitam suas poesias
Os instrumentos tocam belas harmonias
A gente canta, dança e se ama.

E o amor é livre por lá
Amo a ele e a você
Não precisamos nos esconder!
Não é crime, não é errado nem perigoso
Não tem ciúme nem DST.

Vou-me embora
Vou-me embora pra Passárgada!

2 comentários:

  1. PARABÉNS DÉBORA, LINDO POEMA.

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  2. Obrigado Paulo. É uma honra ser elogiada por você, um grande e experiente escritor.
    Débora Garcia.

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha