06 março, 2010

Cakisobrevivente

Eu sou o Cakis
E tenho algo a dizer
Nasci na periferia e nela quero viver.

Não por amor à pobreza, ou a tristeza
Como muitos podem dizer
Por que a periferia não é pobre e não é triste
Ela é o que é, como qualquer lugar.

Nela, há poucos caminhos pelos quais se podem trilhar
E eu, com o fervor de minha curiosidade
Optei por seguir um caminho
Do qual não posso me orgulhar.

Mas também, não me envergonho
Essa é a minha história, meu tesouro!
Que carrego comigo na alma
E protejo mais do que a qualquer pote de ouro.

Habitei o submundo por duas décadas
E lá me deparei com coisas que me fizeram crescer
Nos piores momentos, a palavra - minha fiel amiga, não me faltou
Através dela consegui manter o meu elo com a humanidade
Através dela, sobrevivi e me tornei O Professor do cárcere.

Hoje, aqui da superfície posso dizer
Eu sou o Cakis! E encho a boca para dizer
De boca cheia, e peito inflado digo
Eu sou o Cakis!
Porque hoje sei quem sou
Porque hoje, sei o que sinto.

Choro por grande alegria, ou grande dor
Sorrio, porque me sinto feliz
Escrevo, porque sinto algo verdadeiro e que me angustia
Sofro porque minha realidade não é mais artificial.

É dura, nua, crua e cruel
E mesmo assim sendo, digo que quero viver
Quero viver, por que sou o Cakis!
E tenho muito a dizer.

Seja sobre a dor
Seja sobre o amor
O meu papo é reto, certeiro
Não tem métrica, nem redondilhas
Meus versos não são decassílabos
De forte espessura, não cabem nessas caixinhas.

Por isso, a poesia me dá licença
Licença para falar
Muito prazer eu sou o Cakis
Novamente vou me apresentar
E por ser um sobrevivente,
nada nem ninguém nesse mundo, irá me calar.

Um comentário:

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha