01 junho, 2009

[A BORBOLETA DE UMA ASA SÓ.].

Era um a vez uma borboleta chamada Ana.

Ana, como toda borboleta, tinha sido, antes de tudo, uma simples lagarta e em cujo estado vivera por quinze dias, e, depois, por intermédio da metamorfose natural dos espécimes, teria criado um par de antenas, patas, asas e uma cauda singular.

De cor amarela, desenhos arredondados na cor vermelha sangue, Ana era uma borboleta diferente – possuía uma asa só para voar no interstício das setenta e duas horas de vida concedidas à espécie como um deficiente físico. Era, pelas outras borboletas, julgada uma incapaz...

As horas de Ana eram tão tristes que, uma hora, Ana entrou em profunda depressão e, assim, necessitou de cuidados médicos.

Na comunidade, havia borboletas jurídicas, contadoras, psicólogas, psiquiatras, de todas as profissões e, até mesmo, médicas.

Certa hora, incentivada por Claudete, uma borboleta cinza salpicada de bolinhas azuis da cor do céu, Ivete e Ivone, pretas com desenhos amarelos e vermelhos, e, Margareth, amarela salpicada de bolinhas pretas, assentaram-se na praça, mais precisamente, sobre um frondoso galho de Assa-peixe, e, entrementes, puseram-se conversa de forma animada.

Falaram dos namorados, da liberdade, dos passeios entre as arvores, do beijo nas Azaléias, nas Maria - sem- vergonha, nas Rosas, nas Dálias e na dança lúdica entre os pistilos.

A alegria era total, porém para Ana, ainda que participasse, ativamente, do bate-papo em idioma borboletês, mantinha os olhinhos negros marejados de lágrimas, e, tendo como motivo a dificuldade de, como as outras, voar – considerava-se uma inútil.

Inteligente e astuta, Ivete atraiu Ana até a intercessão de dois galinhos delgados que se estendiam a sua frente, e, ali, diante da tristeza depressiva da amiga, debulhou o leque de suas argumentações na tentativa de incentivá-la para a vida – perguntou:

- Por que você não se cuida? Afinal, você é tão bela, tão simpática que, a meu ver, a sua limitação em nada atrapalha a sua felicidade.

Ana observou:

- Que nada, eu sou uma infeliz. No meu estado, como posso arranjar um namorado, casar-me, por ovos, ter filhos, se até mesmo na dança do amor, perante a minha deficiência do meu vôo, me impede a plena alegria das núpcias.

Ivete contra argumentou:

- Nada disso, na comunidade há uma psicóloga chamada Edna; dizem que é muito boa. Uma borboleta marrom toda salpicada de bolinhas azul marinho que de tão linda e competente em sua profissão; – dizem – mais parece uma fada. Vou levar você até ela!

Ana retrucou:

- E será que vai adiantar?

Bem, chegando ao consultório de Edna instalado entre as folhas e as flores de uma rama de maracujá, a psicóloga inicia uma serie de seções com a infortunada Ana.

Principia por dizer:

- Por que essa tristeza toda estampada em seu rosto? Afinal, você é o modelo perfeito de Deus, ainda que possua, apenas, uma asa. Você pode e deve levar uma vida normal, casar, por ovos, ter filhos, e, ainda ser muito... – muito feliz!

Fato é que, decorridas as seis seções, Ana era outra borboleta. Passava as horas a voar entre os galhos e as flores da vegetação que circundava a comunidade, e não careceu de muito tempo, arranjou um namorado, casou, pos milhares de ovos, e, assim, teve muitos filhos, e, depois; – ah – depois – morreu.

Moral da história...

Pena é que os seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus, ainda que, hoje, sejamos, apenas, imagem, não agem dessa forma, pois discriminam aos semelhantes, desprezam, maltratam àqueles que, mesmo sendo modelos perfeitos de Deus, possuem suas limitações, e, por isso, são julgados como inferiores e imprestáveis. Os que assim agem, permanecem vestidos com as capas da arrogância, da prepotência, da altivez, do desprezo; são ignorantes até o ponto mais longínquo de suas almas doentias... – mas...

Ainda é tempo... – basta que, apenas, venda-se os bens da arrogância, da prepotência, da altivez e do desprezo e viva-se; viva-se como viveu a borboleta de uma asa só, derramando o amor que provém da mais pura essência... – Deus.

Quem puder entender a mensagem; que entenda e ajude a construir um mundom melhor e mais justo.

Fica aqui a sugestão!

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha