23 outubro, 2008

[HELENA NA ZONA... - QUEM DIRIA?]

Há, exatamente, mil, novecentos e setenta e cinco anos, no mês de maio, a maior personalidade da historicidade humana; disse:... – [Não julgueis para que não sejais julgados, pois com o juízo com que julgardes sereis julgados e com a medida que tiveres tomado hão de medir-vos a vós...], portanto, sejamos mansos com as pombas, astutos como os leões, e, prudentes como as serpentes – não o façamos.

Sigamos o nosso vôo em direção ao nosso argumento de hoje...

Se bem me lembro, é um domingo...

O dia amanhece, completamente, nublado, intermediando tanto momentos de estia e quanto de uma chuvinha fina, gelada e insistente que molha até aos nossos ossos retesados pelo intenso frio primaveril.

Empolgado, levanto-me às seis horas e trinta e dois minutos, tomo um banho rápido, engulo, literalmente, um pão com margarina e bebo uma chávena de café, e, eufórico, eu calço os meus sapatos – o direito e o esquerdo – lógico, tomo o guarda-chuva que dorme no guarda-roupa e saio...

Vou à zona!

Carro, ônibus, moto, bicicleta; não – nada disso é necessário – eu moro a pouco mais do que quinhentos metros da zona; vou a pés.

Creio que não se passa quinze minutos e, ainda que não tenha vergonha, entro na zona pela porta dos fundos; nada traumático.

Não obstante, ao chegar, noto uma fila com cerca de vinte mulheres – penso...

Pode ser?... – Oito horas da manhã e já vinte mulheres se entregam às suas responsabilidades na zona!

Bem, crio um clima com uma loira, balzaquiana, esbelta, elegante, escultural e que, pelo menos, me parece ser muito boa; conversamos por quinze ou vinte minutos antes de entrar.

Onde?

Ora, ainda não sabe?

Pense um pouco e chegue à conclusão.

Quando entramos, claro, apalpo, bulino, meto o dedo, aliso, faço tudo quanto não havia, previamente, imaginado enquanto vejo a loira extasiada – rapidinho – o suficiente para satisfazer o meu desejo.

Desço a quarenta anos do passado, lembro-me da caserna, faço – meio volta-volver – o meu olhar cruza ao de Helena; fico estático.

Por que não?

Um clima, duas ou três palavras levadas pelo vento; realidade...

Helena ainda está na zona, acaba de votar....

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha