25 julho, 2006

Novo conto

Nem um copo D´água!
Segunda Feira, 24 julho. Já cheguei no trabalho cansado, dormi mal. Nem bem cheguei, e meu patrão pediu que eu fosse fazer um serviço. Em Santo Amaro, um ponto depois da estátua do Borba Gato (A estátua que está de costas pro bairro do meu amigo Ferréz). Tomei um café rápido e fui, a viagem de ida foi breve, fui devorando às paginas da biografia do nosso presidente! Ao descer no ponto de referência, vou me informar sobre a rua, em que vou, pra minha surpresa o taxista que pergunto não sabe onde é a rua! Ele até olha no guia e nada. Mas pelo menos ele sabia onde era a avenida principal. Desci a avenida Santo Amaro, sentido o bairro de mesmo nome. Cinco ruas depois, entro a direita e me informo, mais um taxista que não conhecia a rua, ele ainda me diz: 'Tem certeza que é por aqui?' 'Não é Campinas!' Pensei. Agradeci educadamente e continuei subindo. A rua em que eu subia, tinha várias mansões, com belas plantas e flores lindas, o lugar era muito tranqüilo, me fez até lembrar a calmaria do interior, e até meus passos ficaram mais lentos. Fiquei admirando aquele lugar luxuoso. 'Será que um dia irei morar numa casa assim?' Pensei. Informo-me sobre a rua novamente. Nada ninguém conhece. Continuo subindo sem rumo. A casa que estou olhando agora é simplesmente... Coisa de outro mundo. Toma conta do quarteirão inteiro. Na esquina vejo um vigia. Educadamente pergunto a ele sobre a rua. 'Úfa caralho finalmente alguém que conhecia a bosta da rua!' Apertei o passo. Podia-se ir pela rua, pois não estava passando nenhum carro. Desde a primeira casa eu percebi que todas tinham câmera, cerca eletrificada e o caralho a quatro. Opa!... Segundo o vigia devo entrar a direita onde termina a rua. Desci duas quadras, e perguntei a uma senhora que estava fazendo Cooper, me espantou a grosseria dela: 'Não conheço nada aqui não!' Deu as costas e saio. Nem consegui agradecer. Torci pra que a mal educada, tropeçasse e caísse por causa de seu orgulho besta. Continuei andando, sem rumo, só então percebi que tinha esquecido o celular no escritório carregando. Merda só me faltava essa! Andei cinco minutos procurando um telefone público, não achei. Andei, andei, andei... Então aceitei o que eu não queria aceitar, eu estava perdido. Nascido e criado em São Paulo, e me perco. E eu sempre digo aos meus amigos que conheço São Paulo como a palma da minha mão! Mentira! Ninguém conhece isso aqui completamente. Mesmo perdido não desanimei. Continuei andando, andando e quando pensei que já andado o suficiente andei mais um pouco! Vejo um senhor varrendo a rua e pergunto sobre a maldita rua fantasma! 'Entra a esquerda na segunda é a terceira travessa!' 'Você jura que é a terceira? Porque se não for eu volto aqui e mato você com requintes de crueldade!' Pensei malvadamente. Depois de meia hora, perdido, achei a merda da rua Phillipp Lohbaer (nome de fantasma). Toquei o interfone da casa da mulher que ia assinar o papel, uma menina de uns quinze anos abriu a portão e disse oi com um sorriso forçado. Perguntei sobre a tal mulher, e ela disse que estava lá dentro. Entreguei o papel a menina, e ela disse que já voltava, fechou o portão na minha cara, e ouvi seus passos apressados retornando pra casa. Fiquei alguns minutos embaixo do sol quente fritando e aguardando. Eis que a porta se abre, a menina me devolve o papel, e eu agradeço. Sai pensando!... Caralho não me ofereceram nem um copo d´água! Morar em mansão deve ser bom! Mas quem vive nelas, tem medo do carteiro, do lixeiro, do Office Boy!... Se for assim irei morar eternamente no Heliópolis.
Robson Canto é autor do livro:
Noite Adentro, que está em fase
de editoração.

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha