22 julho, 2006

Francis

O canto do negro

Eu gostaria de ser um poeta, um poeta de verdade,
Para descrever através de um conto
Ou quem sabe, em uma poesia,
Descrever a vida e o seu grande encanto.
E através dos versos, na melodia das rimas,
Alegrar o coração dos que vivem em prantos.
Fazer vibrar de alegria, os que andam tristes,
E se possível apagar da vida o desencanto.
Mesmo que fosse por um segundo,
Mas eu pudesse mostrar ao mundo,
Do negro o verdadeiro canto.

Eu não descreveria aquele grito tristonho, que o mundo ouvia,
De um negro preso em uma senzala.
Nem tão pouco aquele grito de dor
De uma mulher negra, chamada escrava,
Tratada como um animal selvagem,
Quando no tronco um chicote surrava.
Não, eu não descreveria tal coisa,
Porque isto, nem um pouco me agrada,
Mas eu descreveria, lutas, batalhas e glorias,
De um quilombo, que ficou na história,
Como um valente que enobrece esta raça.

Mas eu sei, que não sou um poeta,
Faço rimas e versos quebrados,
O que eu sei, que eu sou um valente,
Transpondo barreiras, vencendo obstáculos,
Quando venço, é porque sou capaz...
Não derrubo quem está do meu lado,
Me orgulho de ser como sou,
Onde vou, sempre dou espetáculo
Se sou negro, me orgulho de ser!
Nem tão pouco me envergonho em dizer,
Se algum dia eu já fui escravo.

Mas poeta, eu sei que não sou, não, não sou.
Nem sou sábio, para falar de uma causa tão nobre,
Mas bem sei, que eu nasci como todos,
Pelado, sem dentes, não nasci rico nem pobre.
Mas Deus me abençoou com o milagre da vida,
Sou negro, negro sim, mas isto não é motivo,
Para que eu me lamento da sorte.
Se eu levanto não caio, mas se eu cai levanto,
Porque sou um guerreiro, sou bravo sou forte,
Por isso debulho nas cordas de um violão,
No batuque de um tamborim, na batida do rap,
Na melodia de uma canção,
Eu sou o negro que não nasci chorando,
Eu já nasci gritando:
Liberdade ou morte.

Francis Gomes

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha