05 maio, 2006

João Pessoa

Diretamente da Paraíba...

O Saci quer caminhar

Pula moleque Saci, pula!
Tua morada já se foi.
A grande mecanização civilizada
Iniciou a modernidade.
Serás apenas um mito.
Um tópico nos bancos de dados das corporações de ensino burguês.
Pula caboclo menino!
Se junta a tantas tribos dizimadas no continente:
Tupis entupidos por terra, concreto e mercúrio.
Nações andando em círculos de loucura.
A Monsanto tá envenenando as culturas do campo sabia?
São ácidos pulverizando corações e a miséria se alastrando.
Bebês da cultura trangênica passeiam no parque de monóxido
abolindo o direito de plantar em paz.
Curupiras cansados pedem perdão a Deus e calçam
tênis americanos como pena de morte.
Diante desse quadro os pseudo-revolucionários das salas mofadas
arquitetam mais um protesto.
Saem as ruas, bradam chavões decorados, discutem ideologias
e dormem bêbados após lerem textos econômicos incompreensíveis.
Operários cada vez mais mecanizados e camponeses cada vez mais
cancerígenos procuram na nova oferta do “comercial”
o consolo de suas existências.
Agora o Saci chora. Seus poderes já não servem mais nada.
Ele cede. Pega sua ficha no INPS e espera onze meses por sua prótese. Conformado, ele quer caminhar como qualquer um.


Gilberto Bastos Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha