20 fevereiro, 2005

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5ª Fase

Células de uma canção


Eis aqui, a pedra no sapato/ bem no meio da palmilha do engravatado/ eu tô ligado que pego firme/ mas o motivo eu sempre tive/ no meu país falta emprego, luz, água/ aquela que quando chove sem pedir licença invade as casas/ é triste saber que a vida é frágil de ser vivida/ apenas um disparo, bum, já era a alma está despedida/ na minha escrivaninha/ que nada mais é que a mesa da cozinha/ eu escrevo/ escrevo sobre o mendigo que usa a calçada como colchão/ o moleque de rua que por causa de um saco tem várias alucinações/ cachorro de madame vive melhor que eu/ nasceu no berço da miséria problema é seu/ o meu computador que é a caneta/ aja tinta pra escrever a inocência de quem chupa chupeta/ um ser humano que com treze ou catorze anos terá que segurar a barra/ a grande responsabilidade dentro de casa/ não sou Nostradamus não sei o futuro/ mas o que esperar desse nosso mundo/ temos que enriquecer a CPU da nossa cabeça/ através de debate, palestra, idéias que nos fortaleçam/ gostaria de encontrar uma lâmpada mágica/ apenas três pedidos seria uma coisa básica/ emprego, lazer e educação/ o fulano não teria motivo para exercer mal profissão/ mas desse jeito tem que ficar só em pensamento/ a criança não tem estudo, diversão e muito menos exemplo/ médico, juiz, advogado, o que que tem/ estou falando de algo que vai mais além/ solução é o que mais tenho/ pras minhas idéias peço um tempo/ pois eu vi meu padrasto desaparecer e as autoridades nada fazer/ também vi minha bisavó morrer por causa da Santa Casa de Suzano/ cadê os investimentos onde foram os planos/ eu vejo os Estados Unidos dominando nossa terra, conforto tecnológico dominou aí já era/ pra mim tem três drogas liberadas no meio da população/ o dinheiro, o aparelho televisor e a falta de informação/ com o controle remoto você pensa que domina a TV/ tá enganado é ela que domina você/ informação é o que mais falta/ pergunte a um adolescente por que o dólar tem alta/ do dinheiro todo mundo corre atrás/ seja roubando, matando ou trabalhando demais/ a tremedeira das pernas é a dança do medo/ olha a criança e o idoso no meio do tiroteio/ vendo essa bomba de palavras o que você me considera/ um cabeça pensante ou cientista da favela/ talvez ouvindo isso você até me tira, mas é verdade/ conteúdo informação e qualidade/ materiais de construção aumentou/ o sonho da casa própria desabou/ cuidado á noite na rua depois das nove e meia/ quer saber por quê/ leia o livro Rota 66/ casa dos artistas é ibope outra vez/ artista somos nós que sobrevivemos com um salário mínimo por mês/ de manhã é a babá tecnológica/ á noite uma putaria sem lógica/ a crítica é grande pra que minha solução/ os gravatas não aceitam sou do lixão/ a minha inspiração é outra não é a quadrada/ Quarto de despejo – Diário de uma favelada/ talvez dessa idéia você tire uma solução/ o nome dela células de uma canção.

Bibliografia do autor

Ademiro Alves (Sacolinha) nasceu em 09 de Agosto de 1983, na cidade de São Paulo. Começou a ter interesse pela leitura e pela escrita no ano de 2001, estava então com 18 anos de idade.
É idealizador e atuante do projeto cultural “Literatura no Brasil”, que trabalha com 1.250 leitores cadastrados.
Participa das seguintes publicações: Revista Caros amigos "Literatura Marginal" ato III lançada em Maio de 2004. Antologias “No limite da palavra” da editora Scortecci. “ARTEZ - vol. V” da Meireles editorial e “O Rastilho da Pólvora” antologia da Cooperifa, (Cooperativa Cultural da Periferia).
Colunista dos sites: www.enraizados.com.br (Rio de Janeiro) / literaturanobrasil.blogspot.com (São Paulo)
Presidente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Sócio Cultural Negro Sim.
Atualmente prepara o lançamento do seu primeiro livro, “Graduado em Marginalidade”, livro que foi escrito em 08 meses, á mão e com folhas retiradas do lixo.
Foi através da literatura que Sacolinha conseguiu achar respostas para algumas de suas perguntas, e é através dela que ele vai tentar entender o mundo em que vive.

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Sobre choro e nó na garganta

Trecho do livro "Dente-de-leão: a sustentável leveza de ser" - Escritor Sacolinha